Tempos estranhos que estamos vivendo.
Tempos estranhos e difíceis.
É bem angustiante essa situação de quarentena, falta de comida e produtos de higiene básica nos mercados. O mais angustiante disso tudo e simplesmente não saber o dia de amanha, nao saber o que vai ser, o que vai acontecer.
Qual a próxima coisa a ser proibida, fechada, permitida, esgotada, enfim.
São tantas variáveis que fogem do nosso controle e do nosso conhecimento que chega a ser fascinante. Fascinante no sentido de que nos lembra como somos insignificantes diante da magnitude do universo.
Como nossos planos, datas, horários são meros detalhes ínfimos em um turbilhão de fatores que não hesitam em esmagar todos os planejamentos feitos cuidadosamente.
E interessante.
Em inglês tem uma expressão que falta no português, chamada “humbling”, que é o verbo de “tornar humilde”. Talvez e um verbo que falta no Brasil porque reflete a falta de humildade generalizada que existe no nosso país. No Brasil, “humilde” e sinônimo de pobre, vexado, sem estrutura ou condições. O erro mora na sintaxe, porque por definição, humilde é aquele que conhece as próprias limitações, que e modesto. Nao sou eu quem digo, mas sim o dicionário.
Porém me parece que o brasileiro prefere esquecer essa definição e continuar se apegando a definição do pobre e sem estrutura, e por isso se recusa a ser humilde, portanto evita evoluir, reconhecer seus erros, aprender.
Confesso que entendo que nenhum de nós (exceto talvez o Bill Gates) imaginou que experienciariamos uma pandemia de vírus ao longo da nossa permanencia aqui na Terra, mas esse é o mundo em que vivemos, as coisas acontecem sem que as desejamos ou esperamos. Se fosse para recebermos apenas aquilo que desejamos avidamente, todos viveríamos em mansões grandes demais e talvez o Brad Pitt teria muitas esposas.
Cabe a nós exercer o imperativo do verbo Humbling, seguir a ordem de entender, olhar, estudar, aprender, colocar em prática aquilo que é orientado e ensinado, pois só assim podemos evoluir, crescer, superar e prosperar. Não é pedir demais, tanto que nem precisa fazer passeata em meio a uma pandemia pra pedir isso.
No ano passado tive o privilégio de morar alguns meses na Itália, que foi um país que me acolheu e me transformou profundamente, me ensinando uma nova língua, várias novas culturas e tanta coisa fantástica.
Me senti adotada e repatriada, me vi transformada e acolhida por uma cultura que eu não imaginava que pudesse existir tanto, de uma só vez, em um só territorio. Foi transformador, me senti tão parte daquilo tudo, que parecia que nunca havia estado em outro lugar por tanto tempo.
Conforme a propagação do vírus foi dizimando a Italia perante os olhos de todo o mundo, aquilo foi me apertando o coracao de uma maneira que eu nao podia entender.
Eu ja estava longe de la fazia alguns meses, mas ainda me sentia presente.
Quando foi decretada a quarentena em todo o pais, foi quando senti uma piedade tao grande que virou quase uma dor fisica. Fiquei pensando em quantas familias teriam seus ancioes em risco, quantos negocios pequenos sofreriam baques financeiros irrecuperaveis, quantas pessoas tiveram eventos marcantes e planos tao sonhados destruidos diante de seus olhos… Enfim, nao consegui pensar em outra coisa por muitos dias, e talvez por isso fiquei ouvindo cancoes italianas sem parar, talvez foi minha forma reclusa de demonstrar solidariedade.
Recentemente conheci um jovem artista toscano fantastico, comecei a ouvir suas cancoes e nao parei mais. A primeira que conheci foi Freccia Bianca, mas a que deixo aqui hoje se chama Cosa faremo da grandi, ou em traducao literal, “O que faremos quando crescer”, que me parece uma reflexao bem apropriada pra esse momento:
Aproveito e deixo Freccia Bianca para voce curtir tambem: